Carreira e Sucessão

Como aplicar um programa de retenção de talentos na sua empresa

Com as novas formas de trabalho e o cuidado das empresas com a qualidade de vida do colaborador, tem sido um desafio manter os funcionários na organização. Segundo a Forbes Brasil, a demissão voluntária dos profissionais passou de 33% para 48% após a pandemia. Com isso, se torna cada vez mais importante investir em um programa de retenção de talentos. 

Apenas fornecer bons salários não é mais o suficiente, é preciso reconhecer o quanto o capital humano é importante para os objetivos da organização. Com isso, é necessário pensar na retenção de talentos como uma forma de satisfazer as necessidades dos colaboradores, evitando a saída de funcionários de alta performance. 

Pensando nisso, nesse artigo, vamos ajudar a aplicar um programa de retenção de talentos, tornando sua empresa em um local que atraia e mantenha profissionais qualificados. 

 

Você sabe o que é retenção de talentos? 

 

A retenção de talentos é um conjunto de práticas que visa manter os colaboradores que contribuem de forma estratégica para o alcance de resultados da organização (Steil et al., 2016). Desse modo, são ações voltadas para a promoção de satisfação, motivação, qualidade de vida e envolvimento. Sendo assim, essas práticas favorecem a criação de um vínculo com a organização que vai além da relação monetária.

 

O que causa a retenção de talentos?

 

O primeiro passo para aplicar um programa de retenção de talentos é saber, as causas dessa retenção. Segundo (Steil et al., 2016), 73% dos artigos publicados até 2014 abordavam uma relação positiva entre a retenção de talentos e: 

  • Satisfação
  • Pertencimento
  • Salário
  • Segurança de trabalho
  • Comprometimento
  • Lealdade
  • Motivação
  • Atividades desafiadoras
  • Metas de desempenho

Pensando nisso, vamos explicar como ocorre a relação desses fatores com a retenção de talentos.

 

Vínculos com o Trabalho

 

As teorias de vínculos propõe que o indivíduo, ao decorrer de sua vida, se vincula a pessoas, espaços, ações e grupos. No ambiente laboral os vínculos podem ser com a organização ou com o próprio trabalho. 

A satisfação e o envolvimento são exemplos de vínculos com as atividades do trabalho. Com isso, um colaborador satisfeito apresenta menor nível de estresse, menor risco de burnout e maior produtividade e desempenho, reduzindo a rotatividade da empresa pela existência de uma ligação afetiva. 

Além disso, o envolvimento com o trabalho está relacionado ao pertencimento. Esse vínculo se cria desde o alinhamento com os valores pessoais e os valores organizacionais, até o significado que o trabalho tem para o colaborador. 

O envolvimento com o trabalho tem como consequência o maior esforço nas atividades e o melhor desempenho. Assim, impacta na redução do turnover por meio da vinculação entre as características individuais do colaborador e características do cargo.

 

Vínculo com o trabalho

 

Os vínculos com a organização estão relacionados justamente às práticas de incentivo econômico, material e social. Primeiramente, o mais intuitivo é lembrar do vínculo monetário, em que a organização mantém o colaborador ao fornecer um salário justo e competitivo com o mercado. Assim, um bom salário pode melhorar a retenção de talentos, mas nem tudo se trata de uma questão financeira. 

A vinculação com empresa também está relacionada com os recursos não-materiais fornecidos. Desse modo, a percepção de suporte organizacional que o colaborador tem afeta a permanência dele na empresa. Com isso, condições adequadas do ambiente de trabalho, segurança, suporte do líder e políticas justas afetam positivamente a aprendizagem, o comprometimento e reduz a intenção de saída. 

Assim, os vínculos com a organização geram uma maior lealdade, é esse o momento em que o colaborador não ocupa um cargo apenas por obrigação. Com um forte vínculo com a organização, o funcionário veste a “camisa da empresa” de modo que busca retribuir os benefícios fornecidos pela organização. 

 

Motivação

 

A motivação é uma ação dirigida a objetivos, que persistem no decorrer do tempo, sendo a estimulada pelas necessidades, emoções, metas e expectativas. 

Segundo a Teoria do Estabelecimento de Metas (Locke; Latham, 1990), as metas desafiadoras atuam como um motivador de modo que mobilizam esforço para a ação e direcionam a atenção para um objetivo, motivando os colaboradores. Assim, a motivação atua juntamente com a satisfação das necessidades dos colaboradores, promovendo a retenção de talentos. 

Estruturando um programa de retenção de talentos

 

Um programa de retenção de talentos deve considerar toda a jornada do colaborador dentro de uma organização. Assim, a atuação estratégica da área de gestão de pessoas é indispensável para que sua empresa possa reter profissionais que contribuam para o objetivo organizacional.  

Sendo assim, aqui vamos mostrar algumas práticas que o seu RH pode realizar em um programa de retenção de talentos.

 

Recrutamento e seleção e Plano de sucessão

 

A retenção de talentos deve ser pensada ainda no recrutamento e seleção, ou até mesmo antes dele. Por exemplo, antes de abrir uma vaga para um cargo de destaque e liderança, se questione: Qual profissional contratar? Esse recrutamento é realmente necessário? Existe algum colaborador que possa ser desenvolvido para ocupar o cargo? 

Um recrutamento e seleção realizado de forma estratégica e estruturada é aquele que tem clareza do que a empresa precisa. Por isso, a retenção de talentos se inicia nesse ponto, ao escolher um profissional alinhado com os valores e com a cultura da empresa

A possibilidade de crescimento é um fator motivacional que irá te ajudar a reter talentos na sua empresa. Além disso, um colaborador da empresa que já está habituado com a cultura, o contexto e conhece a rotina da organização se adapta mais facilmente ao cargo de liderança e à equipe.

 Exemplo: 

Imagine que, ao fazer um processo seletivo sem conhecimento da importância dos valores organizacionais, a equipe de RH contrata um funcionário com muitas habilidades técnicas para o cargo, mas que não está alinhado com os valores da empresa. Com o passar do tempo, o novo funcionário não interagia com a equipe, se mostrava desmotivado e apresentava faltas frequentes, até pedir desligamento. 

O que poderia ter sido feito? Primeiramente poderia ser feito um plano de sucessão que preparasse o sucessor para assumir o cargo. Isso iria reduzir o tempo de vacância do cargo além de possibilitar uma transição gradual. 

Caso  isso não fosse possível, o recrutamento e seleção seria uma alternativa, mas é necessário estabelecer etapas que avaliam competências específicas da organização. Isso é necessário pois liderar é exercer influência e uma liderança destoante dos objetivos organizacionais pode ser extremamente prejudicial.

 

Avaliação de desempenho

 

A avaliação de desempenho é uma forma de mensurar o desempenho dos colaboradores com o objetivo de identificar pontos fortes e fracos de cada colaborador. Assim, é possível direcionar o desenvolvimento dos funcionários, bem como valorizar o alto desempenho. Essas práticas decorrentes da avaliação de desempenho são fundamentais para a retenção de talentos, fornecendo suporte e metas que direcionam o trabalho. Assim,  a avaliação de desempenho contribui para a melhora da motivação e da satisfação dos colaboradores. 

Exemplo:

Ao ver os resultados da empresa caindo e os colaboradores desanimados, a gerente de RH da organização viu a necessidade de realizar um programa de retenção de talentos. Com isso, decidiu promover a valorização dos colaboradores que se destacavam e estimular o desenvolvimento e aperfeiçoamento dos membros da empresa. No entanto, não conseguia identificar esses colaboradores por falta de dados suficientes. 

Desse modo, a Avaliação de desempenho foi a solução encontrada para identificar o desempenho dos colaboradores e promover ações. Assim, foi possível valorizar e desenvolver os colaboradores de forma que eles criaram um maior vínculo com a organização ao perceber o suporte e se sentirem valorizados. 

 

Desenvolvimento

 

O desenvolvimento é um elemento chave para o crescimento profissional. Assim, oportunidade de desenvolvimento de suas habilidades e competências é um forte motivo para a permanência do colaborador na organização. Segundo o  relatório “The future of Talent Acquisition 2023” da Korn Ferry, quando os profissionais têm oportunidade de desenvolvimento, a retenção de talentos é 34% maior. 

Exemplo: 

Uma empresa apresenta uma jornada do colaborador baseada em estabelecimento e cumprimento de metas apenas. Sendo assim, o desenvolvimento continua sendo necessário, mas deve ser buscado de forma autônoma fora do horário de trabalho e com recursos pessoais. 

Com isso, sem estímulo para se desenvolver, os colaboradores se sentem estagnados e buscam outras empresas que geram oportunidades de desenvolvimento. Desse modo, o RH decidiu investir em práticas de desenvolvimento, identificando os pontos de melhoria por meio de uma avaliação de desempenho e PDIs. 

Assim, foi possível atender as demandas de desenvolvimento dos colaboradores, reduzindo o turnover. Além disso, os colaboradores conseguiam acompanhar as tendências do mercado e apresentar inovações, enquanto se desenvolviam profissionalmente. 

 

Conclusão

 

Sendo assim, como vimos a retenção de talentos deve ser um processo contínuo que promove a motivação e satisfação na jornada do colaborador. Dessa maneira, as ações de gestão de pessoas são fundamentais, promovendo o cuidado com o colaborador. Isso ocorre, pois a qualidade do  ambiente e das relações de trabalho se tornam cada vez mais uma necessidade para os profissionais para uma boa atuação. 

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Referências

 

Steil, A. V., Penha, M. M., & Bonilla, M. A. M. (2016). Antecedentes da retenção de pessoas em organizações: Uma revisão de literatura. Revista Psicologia, Organizações E Trabalho, 16(1), 88–102. http://doi.org/10.17652/rpot/2016.1.542

Mendonça, M. da C. F. de. (2002). Retenção de talentos por meio de reconhecimento e recompença. Bibliotecadigital.fgv.br. http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/3745

Souza, P. L., Castañeda Ayarza, J. A., & Spilleir, D. (2022). Retenção de Talentos e Turnover: Diagnóstico e Discussão de Fatores a Partir de um Estudo de Caso. Revista de Administração IMED, 12(1), 128–150. http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8742130

Maria Luisa da Costa

Sou graduanda em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Atuei na diretoria de Gestão de Pessoas da Praxis Consultoria Jr., além de participar do grupo de estudos e pesquisa em psicologia social e pesquisa em ciência da comunicação científica. Atualmente, atuo como produtora de conteúdo na Impulseup e acredito que as pessoas são parte fundamental e diferencial para as empresas.

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