No dia a dia, um RH estratégico precisa mensurar e acompanhar diversos fenômenos e indicadores. Alguns deles podem ser medidos objetivamente, como rotatividade e o absenteísmo. Outras questões, entretanto, não são observáveis diretamente, como o clima de uma equipe ou o engajamento dos colaboradores.
Para esse segundo caso, normalmente, é realizada uma pesquisa utilizando um questionário ou formulário para entender a relação do time com a empresa. Nesse levantamento, não é medido o alvo em si, mas sim as suas manifestações e propriedades.
Nesse processo, surge um novo desafio: como construir bons questionários de pesquisa, capazes de coletar os dados necessários?
Para te ajudar nessa tarefa, neste artigo, você vai encontrar as orientações do psicometrista Luiz Pasquali, grande referência na área, sobre como construir um bom instrumento de pesquisa.
O modelo proposto por Pasquali para a elaboração de um questionário de pesquisa indica a existência de 3 polos:
O polo teórico envolve os procedimentos de definição do fenômeno a ser analisado e a construção dos itens que compõem a análise. O polo empírico, por sua vez, abrange os processos de aplicação do instrumento, enquanto o polo analítico estabelece como a análise dos dados deve ser feita.
Neste artigo, o foco serão os procedimentos do polo teórico, os quais são estruturados em um percurso lógico com 6 etapas:
Siga a leitura para conhecer, em detalhes, cada uma dessas etapas.
O primeiro passo para a construção de um questionário de pesquisa é definir qual será o objeto da sua mensuração, ou seja, estabelecer o que será medido. Essa etapa é chamada de sistema psicológico.
Um sistema possui diferentes níveis de amplitude e qualquer um desses níveis pode ser focalizado de acordo com a sua demanda. O seu sistema psicológico pode ser algo mais amplo e geral, como vínculos com a organização, que é composto por vários eventos, como percepção de justiça e comprometimento (subsistemas).
Ou o seu sistema pode ser algo mais específico, como o próprio comprometimento, que possui os seus próprios subsistemas (comprometimento afetivo, normativo e calculativo).
Assim, a escolha de qual sistema (e em qual nível) deve ser feita com base nos interesses do RH e/ou dos gestores, sempre tendo em mente a estratégia da organização.
É importante destacar também que, para uma escolha mais alinhada e para o bom andamento das próximas etapas, é fundamental que você conheça a fundo sobre o seu objeto de interesse. Por isso, estude sobre ele em fontes confiáveis.
Agora que você já definiu qual é o seu objeto de interesse, vá para a próxima etapa: a identificação das propriedades do sistema.
Nessa etapa, são observadas quais são as características do fenômeno (clima, engajamento, etc.) de interesse escolhido. Essas características darão a base para a construção do formulário, uma vez que deverão estar refletidas no questionário de pesquisa. Por isso, identifique e descreva-as com bastante atenção.
Por exemplo, quando se fala em clima organizacional, estamos falando de um fenômeno perceptual e descritivo. Ou seja, não são dados objetivos. Dessa forma, itens de uma pesquisa de clima devem pedir que os respondentes descrevam o que acontece em sua organização, sem julgar esses acontecimentos.
Porém, quando se fala de satisfação, estamos falando de um fenômeno atitudinal e avaliativo. Assim, um formulário de satisfação deve pedir para que os respondentes digam como eles se sentem diante de determinada característica.
Entender as propriedades de um sistema é um passo importante para pensar e escolher os itens de um questionário de pesquisa.
O próximo passo para criar um questionário de pesquisa é identificar quais são as dimensões do sistema. Isso é, qual a estrutura interna e os componentes desse objeto de interesse. Para entender quais são os componentes de um sistema, você pode recorrer a artigos e a livros sobre psicologia organizacional.
Quando se fala, por exemplo, de motivação com base na Teoria da Expectância, estamos falando sobre um sistema (motivação), composto por 3 dimensões: valência, instrumentalidade e expectativa. A valência é a importância que uma pessoa dá a determinado objeto. A instrumentalidade é a crença da pessoa de que seu esforço pode levá-la a alcançar esse objeto. Por fim, a expectativa é a crença de que ao realizar certas atividades, o seu objetivo será alcançado.
Nesse sentido, cada sistema possui os seus próprios componentes. Sabendo quais são eles, você consegue definir quais serão priorizados no seu questionário de pesquisa com base na sua demanda.
Agora que você já sabe qual é o seu objeto de interesse, quais são as suas propriedades e quais são os seus componentes, é hora de ir para a próxima etapa: a definição clara do sistema. Essa definição é feita em duas etapas: definição constitutiva e definição operacional.
A definição constitutiva é a descrição do fenômeno em termos mais abstratos, com base nos conceitos próprios da teoria que faz parte. Essa definição seria aquela que encontramos em dicionários.
A definição constitutiva de clima organizacional seria: “Fenômeno perceptual duradouro, construído com base na experiência, multidimensional e compartilhado pelos membros de uma unidade da organização, cuja função principal é orientar e regular os comportamentos individuais de acordo com os padrões determinados por ela”.
A definição operacional é a descrição do objeto com base naquilo que pode ser, de fato, observado. Aqui, você deve focar na manifestação desse fenômeno.
Essa etapa é de suma importância: é nela que se sai do campo abstrato e teórico para entrar em um campo mais concreto e comportamental.
Mager dá uma dica para confirmar se sua descrição operacional é, realmente, operacional: se você consegue dizer “vai lá e faça (descrição operacional)” e a pessoa entender o que precisa ser feito, a sua definição está correta.
Voltando ao nosso exemplo sobre clima organizacional, podemos dizer que uma das definições operacionais seria a descrição do que os gestores fazem. Se dissermos para alguém “vai lá e faça a descrição do que os gestores fazem”, essa pessoa saberá o que precisa fazer.
Assim, a definição operacional deve estar alinhada com a teoria sobre o fenômeno. Se você falar que a definição operacional de clima é a descrição de como o gestor faz bolo, estará errado. Apesar de realmente ser operacional, essa informação não está alinhada com aquilo que é o clima organizacional.
Agora chegou a hora de elaborar os itens do seu formulário. Para isso, vamos representar o nosso sistema em frases, afirmações e/ou perguntas. Para que essa etapa seja feita com tranquilidade, é necessário ter muita clareza de todos os pontos que foram definidos anteriormente.
A construção dos itens devem seguir algumas regras.
É importante que o questionário de pesquisa, analisado em sua totalidade, aborde equilibradamente toda a extensão do objeto de interesse e suas dimensões. Além disso, ele deve conter variedade de itens, diversas linguagens, evitar que todos os itens sejam muito fáceis ou muito difíceis, garantindo que haja uma distribuição equilibrada de itens entre as dimensões.
A quantidade de itens de sua escala vai depender do sistema investigado. Sistemas mais complexos e com mais dimensões tendem a ter questionários maiores.
Finalizada a elaboração dos itens, tem-se a última etapa do polo teórico da construção do questionário de pesquisa. Nessa etapa, deve-se analisar se os itens são adequados. Para isso, são realizados dois processos distintos: a análise semântica e a análise de juízes.
Na análise semântica, o questionário de pesquisa é apresentado para um pequeno grupo de pessoas que fazem parte da organização. Essas pessoas devem ser de áreas, cargos e níveis diversificados. O objetivo desse processo é verificar a integralidade e a adequação da redação dos itens. Ou seja, busca-se validar se os itens são compreensíveis para as pessoas que irão responder o questionário.
Na análise de juízes, por sua vez, o instrumento é apresentado para pessoas que entendem sobre o assunto. Com isso, busca-se validar a pertinência dos itens para a compreensão do sistema psicológico definido. Após a análise teórica, os itens do seu questionário estão prontos!
Neste artigo, você conheceu o modelo de construção de formulários de pesquisa para a investigação de fenômenos psicológicos proposto por Pasquali.
Quando os passos acima são seguidos, é possível evitar a:
Um bom instrumento é fundamental para que os dados coletados em sua pesquisa sejam alinhados com os seus objetivos e com a estratégia da empresa. Além disso, ele garante a qualidade dos dados e facilita a análise e interpretação das informações.
Com os itens definidos, você pode partir com mais segurança para a próxima etapa da pesquisa: a coleta de dados. Então, agora que você já sabe como criar um bom questionário, que tal dar um passo além e criar a sua primeira pesquisa de clima? Temos um conteúdo perfeito pra você aqui!
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